Criptomoedas: Riscos, fraudes e alertas para utilizadores em Portugal

As criptomoedas tornaram-se um dos tópicos mais discutidos da atualidade, quer pela promessa de inovação e utopia de liberdade financeira, quer pelo seu potencial especulativo. Em paralelo com esta popularidade, surgiram inúmeros esquemas fraudulentos. Em Portugal, o fenómeno não é exceção e este guia foca-se nesses riscos e fraudes, com conselhos práticos para a segurança dos leitores.

No Fraudes.pt, o nosso compromisso é com a informação responsável e a proteção dos utilizadores. Não promovemos criptomoedas nem operadores de jogo online associados a criptoativos. Esta página tem como objetivo esclarecer os principais riscos e esquemas em torno das criptomoedas, sob a perspetiva dos jogadores e apostadores portugueses.

O que são criptomoedas e como funcionam

As criptomoedas são ativos digitais que utilizam tecnologia de blockchain para validar transações de forma descentralizada. Isto significa que, ao contrário do dinheiro tradicional, não estão associadas a um banco central ou entidade estatal. As criptomoedas e as suas transações:

• São verificadas por uma rede de computadores (nós, ou nodes).
• São, na maioria das vezes, irreversíveis e anónimas.
• Utilizam chaves criptográficas para garantir segurança e controlo, daí o seu nome.
• As moedas mais conhecidas incluem Bitcoin (BTC), Ethereum (ETH) e Tether (USDT).
• Para comprar ou armazenar as ditas moedas, ou criptoativos, os utilizadores recorrem a carteiras digitais (wallets) e a plataformas de compra e venda conhecidas como exchanges, ou corretoras de criptomoedas.
• Existem também carteiras físicas onde as chaves criptográficas podem ser guardadas em segurança, mitigando o risco de fraude online.

Apesar da sofisticação tecnológica, estas ferramentas podem ser exploradas por cibercriminosos quando os utilizadores não compreendem os seus riscos. Vou falar-te desses riscos em detalhe e explicar-te como podes navegar no mundo das criptomoedas em segurança. Já fui alvo de fraude com criptomoedas, bem como várias pessoas que conheço. O meu objetivo é que evites os nossos erros.

Porque as criptomoedas atraem tantos esquemas fraudulentos

A ausência de regulação clara, aliada ao desejo de lucro rápido, criou o cenário perfeito para esquemas fraudulentos. O dinheiro real pode facilmente ser convertido em cripto e a partir daí, ir parar a qualquer parte do mundo, frequentemente de forma anónima. Estes são os principais fatores que favorecem este tipo de criminalidade digital:

• Anonimato: permite esconder a identidade dos burlões.
• Irreversibilidade: uma vez enviada, a transação não pode ser anulada.
• Plataformas estrangeiras não reguladas: operam fora do alcance das autoridades portuguesas.
• Promessas de retorno fácil: manipulam o comportamento emocional dos investidores.

Este conjunto de fatores faz com que as criptomoedas sejam um ambiente de alto risco para utilizadores menos informados. Não considero que devas temer as cripto, ou evitá-las completamente. Idealmente, com alguma educação neste meio, é bastante fácil investires, fazeres pagamentos ou até jogar, sem correr riscos desnecessários.

Principais tipos de fraudes com criptomoedas em Portugal

Que fraudes encontras com criptomoedas no nosso país? São várias e transversais ao mercado cripto, usando inúmeros esquemas para te levar ao engano. A seguir, identifico alguns dos esquemas mais frequentes que têm afetado utilizadores portugueses.

Esquemas Ponzi e pirâmides financeiras

Os esquemas Ponzi prometem rendimentos estáveis ou diários em criptoativos, mediante o recrutamento de novos membros. Não há qualquer produto real, apenas um fluxo de capital insustentável. Quem está no topo enche os bolsos à custa da base da pirâmide. Recentemente, um esquema lesou 156 portugueses, com promessas de rentabilidade até 300%.

O primeiro alerta é a elevada taxa de rentabilidade. O mesmo sucedeu com a corretora FTX que deixou um rombo estimado de €6,5 milhões em Portugal apenas, com os investidores a perderem entre 20 a 25 mil euros, enquanto outros perderam mais de 1 milhão. O prejuízo global estimado? Mais de 7,4 mil milhões de euros! Evita a tentação de taxas absurdas e se tiveres de investir, fá-lo em plataformas com boa reputação, diversificando os teus investimentos.

Phishing e malware

O phishing e malware não são ameaças novas, mas recentemente visam roubar dados sensíveis (como a seed phrase de uma carteira de cripto). O acesso a dados desta natureza pode significar a perda total dos teus criptoativos em determinada carteira ou corretora. As ameaças podem surgir sob a forma de:

• E-mails falsos de corretoras conhecidas, como a Binance, Bitget, ou outras.
• Aplicações falsas com design idêntico às legítimas.
• Sites clonados com pequenos erros no domínio, difíceis de detetar.

Para não seres vítima de fraudes com criptomoedas neste cenário, nunca deves clicar em links no teu e-mail ou redes sociais. Se precisares de aceder às tuas criptomoedas, fá-lo através dos portais e apps oficiais, idealmente com recurso a autenticação de dois fatores. Mais vale perderes uns segundos no acesso do que todo o teu dinheiro sem pré-aviso.

Roubos em corretoras de cripto não regulamentadas

Corretoras sem sede na UE podem bloquear contas, congelar fundos ou desaparecer sem deixar rasto. A FTX é um excelente exemplo de milhões em cripto que evaporaram do dia para a noite, mas existem outros exemplos de perdas avultadas, neste caso por falta de regulamentação e intenção criminosa por parte de quem geria estas empresas:

• BitConnect (2018), perdeu mais de \$1 bilião com um esquema Ponzi.
• QuadrigaCX (2019), perdeu mais de \$200 milhões quando o CEO alegadamente “morreu” na Índia e era o único com acesso às chaves criptográficas.
• Thodex (2021), perdeu mais de $2 biliões quando o CEO, Faruk Fatih Ozer, fugiu. Após ter enganado mais de 400.000 utilizadores, foi capturado em 2022 e extraditado para a Turquia em 2023. O caso ainda está em julgamento nos tribunais.

As consequências são claras: O utilizador perde o acesso a fundos e não encontra recursos legais eficazes. Em muitos casos, o dinheiro investido perde-se para sempre. Independentemente do valor perdido, estes casos criam um sentimento generalizado de desconfiança em torno de uma tecnologia real e com vários usos práticos, a blockchain.

Para evitares fraudes desta natureza, recomendo que optes somente por corretoras regulamentadas e tenhas algumas cautelas. O ideal é não teres todos os investimentos num único local e muitos dos investidores avançados recomendam o uso de carteiras de hardware. A filosofia not your keys, not your crypto, é clara: se não és tu quem está em posse das tuas chaves de acesso, os criptoativos não estão efetivamente em tua posse.

Fraudes em redes sociais e apps de namoro

Atualmente existem tantos perfis falsos que acabam por superar largamente aqueles que são reais. Muitos destes perfis são bots, com promessas de parcerias de investimentos ou até mesmo relacionamentos digitais. A dado ponto, solicitam transferências em cripto, ou registos em sites fraudulentos. Em alguns casos, devolvem o valor investido com lucro em alguns passos, até desparecerem por completo com um montante mais avultado.

Indivíduos que estejam a experienciar alguma vulnerabilidade emocional ou sejam pouco experientes no meio online são os alvos ideais. O X é uma das redes onde estes esquemas se propagam sem grande filtro por parte da plataforma. Aplica o máximo rigor na forma como acedes e usas as tuas criptomoedas e em caso de dúvida, não tomes nenhuma ação sem confirmares antes.

Como identificar uma fraude com criptomoedas

É essencial reconhecer os principais sinais de alerta e com o passar do tempo, novos esquemas irão surgindo. Caso algum método inovador e relevante surja, atualizarei esta página para te ajudar a reconhecê-lo. Para já, deves prestar atenção às seguintes caraterísticas que caraterizam muitas das fraudes atuais:

• Promessas de lucros rápidos ou garantidos.
• Pressão para agir “antes que seja tarde” (FOMO, ou Medo de Ficar de Fora).
• Comunicação por canais não oficiais (Telegram, WhatsApp).
• Ausência de documentação legal ou sede física.
• Utilização de termos técnicos para te confundir.

Deves desconfiar de qualquer proposta que não te dê tempo para analisar, investigar ou consultar fontes fidedignas. O medo de ficar de fora é um dos gatilhos emocionais mais poderosos. Surge frequentemente em momentos de novas altas no mercado e leva muitos ao engano. Lembra-te: há sempre a próxima baixa para fazeres um investimento!

Criptoativos e casinos online: tudo o que precisas de saber

Em Portugal, os operadores de jogo online licenciados pelo Serviço de Regulação e Inspeção de Jogos (SRIJ) não aceitam criptomoedas como forma de pagamento. Qualquer site que alegue aceitar criptoativos para apostas ou jogos de casino está, por definição, fora do âmbito legal português. Os principais riscos de jogares num site desta natureza incluem:

• Perda total de fundos.
• Participação involuntária em esquemas de branqueamento de capitais.
• Ausência de qualquer proteção legal ou mecanismos de reclamação.

No Fraudes.pt defendemos sempre o jogo legal e seguro, nomeadamente através da recomendação de casinos online legais onde te podes divertir com milhares de jogos, em total cumprimento da lei portuguesa. Estes operadores não aceitam cripto, mas pagam os seus impostos em Portugal e não te colocarão em situações desagradáveis.

Casos reais e alertas das autoridades portuguesas

As autoridades nacionais emitem alertas regulares sobre o uso fraudulento de criptoativos. Mesmo que estejas no mundo cripto, é importante considerar estes alertas, pois dão-nos a conhecer outra perspetiva que pode ter ramificações e afetar-te diretamente. Algumas das considerações por parte das autoridades portuguesas incluem:

• Banco de Portugal: alerta que as criptomoedas não são moeda legal e os seus utilizadores não têm garantia de proteção.
• CMVM: identificou e suspendeu esquemas de “falsos consultores financeiros” que promoviam investimentos em cripto.
• Polícia Judiciária: envolvida em várias investigações sobre esquemas internacionais com vítimas em Portugal.

Nunca é uma perda de tempo o consultar de fontes oficiais para verificar a legitimidade de uma plataforma ou serviço.

Como te podes proteger de fraudes com criptomoedas

Apresento-te boas práticas de segurança digital que reduzem significativamente o risco de fraude com criptomoedas. Eu próprio adoto-as constantemente ao aceder e usar os meus criptoativos e sou bastante resistente a promessas fáceis. Entendo o cripto como investimento a largo prazo, assumindo a sua volatilidade, mas também conhecendo as principais fraudes e formas de me manter em segurança. Considera as seguintes recomendações:

• Utiliza a autenticação de dois fatores (2FA) nas tuas contas.
• Verifica sempre se o site tem certificado HTTPS válido.
• Nunca partilhes as tuas seed phrases com terceiros.
• Usa carteiras offline (cold wallet) para armazenar grandes quantidades de cripto.
• Pesquisa a reputação da empresa (fóruns, Trustpilot, base de dados da CMVM).
• Evita plataformas que prometem retornos garantidos.

Recomendo uma postura defensiva e informada como a tua melhor arma contra fraudes digitais.

O que fazer se fores vítima de uma fraude com criptomoedas

Se suspeitas ter sido alvo de fraude, há alguns procedimentos a considerar. Infelizmente, nenhum te dá garantias de sucesso, mas são antes uma série de passos para alertar a comunidade e ativar os mecanismos legais necessários para dar a conhecer ou agir sobre o sucedido. Os passos são os seguintes:

• Recolhe provas: capturas de ecrã, emails, histórico de transações.
• Contacta a Polícia Judiciária: fá-lo diretamente para o departamento de cibercrime.
• Reporta à CMVM: se for um caso de falso investimento.
• Denuncia publicamente: no Portal da Queixa ou plataformas similares.
• Considera apoio jurídico: há advogados especializados em ciberfraude.

Agir rapidamente aumenta a probabilidade de mitigar danos e evitar novas vítimas. É possível que não consigas recuperar os teus fundos, mas podes pelo menos ajudar a travar a disseminação desses esquemas. Muitos deles surgem simplesmente pela falta de informação facilmente acessível. A Unidade de Cibercrime da Polícia Judiciária tem uma secção dedicada a alertas que é extremamente valiosa e vai muito para além das criptomoedas.

Conclusão: Estar informado protege-te contra fraudes com criptomoedas

As criptomoedas representam uma nova fronteira digital, com potencial significativo, mas também com riscos reais, especialmente quando exploradas por esquemas fraudulentos. Em Portugal, o número de vítimas tem aumentado, frequentemente devido à falta de informação acessível e preparação individual.

No Fraudes.pt, reiteramos que não promovemos nem recomendamos investimentos em criptoativos, e muito menos plataformas de jogo online que os utilizem. Ainda que eu invista a título pessoal, alerto para os diversos riscos de quem não compreende as bases da segurança online. O meu conselho final é que estejam atentos, investiguem adequadamente e não confiem o vosso dinheiro e dados sem certezas absolutas.